Por: @eduardoazev
Nomes de quem abandonou a Universidade Federal do Tocantins (UFT) há vários anos, de ex-acadêmicos que já faleceram e até mesmo de quem está finalizando sua graduação em outra instituição federal constam na lista de discentes aptos a votar na Pesquisa eleitoral para a reitoria da UFT, que ocorrerá na próxima terça-feira, dia 22 de março.
Em uma pesquisa realizada pela reportagem na lista de discentes aptos a escolherem o próximo reitor (o) e vice reitor da Universidade, foi constatado de que pelo menos 11 pessoas, sendo nove vinculadas ao curso de Comunicação Social – Jornalismo, uma de Ciência da Computação e outra de Arquitetura e Urbanismo não deveriam constar na listagem.
O primeiro caso verificado foi o de José Valdênio Leite Teixeira, ex-acadêmico de Jornalismo, que foi encontrado assassinado em sua residência no dia 26 de abril de 2014. Na ocasião, a própria UFT emitiu uma Nota de Pesar pelo ocorrido.
Assim com este caso, também foi encontrado na lista o nome de Rômulo Ery Santos Freitas, que era estudante do curso de Arquitetura e Urbanismo. Ele veio a falecer em um trágico acidente no ano passado. Ambos os nomes estão na relação divulgada pela Comissão Eleitoral.
OUTRA UNIVERSIDADE
Outro caso é o de um ex-estudante de Ciência da Computação. Em entrevista ao Blog do @eduardoazev ele, que pediu para ser identificado apenas com “Dias”, informou que abandonou o curso de Ciência da Computação no semestre 2012.1. “Nunca mais nem pisei na UFT”, afirmou. No entanto, seu nome também consta como apto a votar nas eleições para a reitoria.
Portanto, de acordo com as informações repassadas pelo ex-acadêmico, ele estaria afastado da UFT há mais de seis semestres letivos. Ele também afirmou que estuda atualmente no Instituto Federal de Educação do Tocantins (IFTO), Câmpus de Palmas, e comprovou a informação encaminhando à reportagem sua declaração de matrícula:
DEIXARAM A FACULDADE
Outras situações verificadas pela reportagem são a de alunos que deixaram a UFT há vários anos, mas mesmo assim ainda estão na lista, como aptos a escolher o próximo reitor (a) e vice-reitor da UFT. O ex-acadêmico de Comunicação Yhgor Leonardo Castro Leite, é um desses casos. Ele confirmou ao Blog do @eduardoazev ter trancado a faculdade há quase sete anos. Após ter sido aprovado no processo seletivo 2008.1, ele resolveu deixar a graduação. “Fiz apenas três períodos”, disse. Conforme a informação repassada pelo aluno, ele trancou o curso na UFT no semestre 2009.2. Yhgor reforçou que iniciou Gestão Pública fora da UFT e que já está concluindo o curso este ano.
Atualmente estudante de Administração, Kenner Roger Reis Carvalho entrou para Comunicação Social – Jornalismo da UFT no semestre 2009.2, mas não chegou a concluir o curso. Posteriormente ele iniciou uma outra graduação fora da federal.“Fiz três períodos de jornalismo, cheguei a me matricular no quarto, mas nunca mais fui”, ressaltou. Ele reforçou ter deixado a graduação no ano de 2011, sem saber ao certo qual semestre daquele ano, o que daria em torno de 8 a 9 semestres afastado da UFT.
Da mesma turma de Kenner, e que também consta na lista de aptos a votar no processo eleitoral, está o ex-acadêmico Adriano Cavalcante Reis e a estudante Lorrane Caroline Mesquita Nogueira. Em entrevista à reportagem, o primeiro afirmou ter abandonado a UFT ainda em 2012. “Desde que deixei a faculdade nunca mais voltei lá. Não sei nem como ficou a minha situação”, declarou. A segunda, após deixar a graduação em Jornalismo, já está concluindo o curso de fisioterapia na cidade de Marabá, no Pará.
Pedro Araújo Mesquita é outro que também deixou a UFT há quatro anos. “Tranquei em 2012. Não voltei mais lá, pois fiquei desanimado por conta das greves. Fui cursar Publicidade em uma faculdade particular”, destacou.
A reportagem também conseguiu falar com Paulo Cezar de Lima Pereira Júnior, Rodolfo Carvalho Brito Santos e Roseane Jaber Gouveia. O primeiro afirmou ter deixado o curso em 2011, já os dois últimos em 2012. Todos confirmaram que desde que saíram da UFT, nunca mais retornaram.
Posteriormente, a Comissão Eleitoral publicou uma lista final onde consta todos os nomes citados acima.
É importante ressaltar que a reportagem conseguiu identificar – em sua maioria – casos do curso de Comunicação Social – Jornalismo, pelo fato do repórter ainda fazer parte do quadro acadêmico e, portanto, conhecer os colegas e ex-colegas de curso. Não foi possível analisar nos demais cursos se a situação relatada acima se repete.
REGIMENTO ACADÊMICO
O Blog do @eduardoazev entrou em contato com a Pró-reitoria de Graduação da UFT (Prograd) e foi informado de que há um Regimento Acadêmico que determina os vínculos entre os acadêmicos e a Universidade.
Conforme o Art. 77 inciso I, desse regimento “O acadêmico terá sua matrícula cancelada quando deixar de renovar a matrícula por 2 (dois) semestres consecutivos ou não, situação que configurará abandono de curso, desfazendo-se o vínculo do acadêmico com a Universidade”. Conforme o regimento, os alunos citados na matéria não deveriam constar na lista.
Você pode conferir o Regimento Acadêmico na íntegra AQUI.
FRAGILIDADE DO PROCESSO
A reportagem também entrou em contato com o procurador-geral do Ministério Público Federal (MPF), Álvaro Manzano, para questionar a vulnerabilidade da Pesquisa Eleitoral, já que há nomes de pessoas que não deveriam constar na Lista de votantes, assim como a autorização de determinados documentos – como a carteirinha do Restaurante Universitário e de Estudante – que são aceitos para a identificação na hora do voto.
“Fragilizar (o processo) fragiliza. Uma das partes participantes do processo pode pedir uma depuração dessas listas, ou então, melhorar no momento da votação a questão da identificação do eleitor” disse o procurador-geral.
De acordo com Mazano, tal fato pode gerar questionamentos judiciais. “Depois, se levantar provas de que houve falhas no registro dos eleitores, e se a eleição for comprometida, o processo eleitoral pode sim ser questionado judicialmente”, completou.
DEMAIS VOTANTES
No primeiro regimento eleitoral assinado pela Comissão Central em 17 de fevereiro, os professores e técnicos afastados por interesse particular ou cedidos, além dos alunos com matrículas trancadas, estavam impedidos de participar do processo eleitoral.
No entanto, após a posse dos professores Elvio Quirino e Marcos do Santos, essas categorias – que estavam impedidas de participar da Pesquisa Eleitoral – passaram a ter direito ao voto.
De acordo com informações obtidas por meio do Serviço de Informação ao Cidadão (SIC), atualmente 338 alunos da UFT estão com matrículas trancadas. No caso dos professores 80 estão afastados, 07 estão cedidos e 09 estão licenciados, totalizando assim 96 docentes que não estão exercendo no momento suas atividades na UFT. Já os Técnicos Administrativos estão com 26 afastados, 15 Cedidos e 13 licenciados, o que dá um total de 54 administrativos temporariamente fora do ambiente universitário.
Você pode conferir a relação completa dos alunos da UFT com matrículas trancadas por curso AQUI.
O quantitativo dos professores afastados, licenciados ou cedidos você pode conferir AQUI.
COMISSÃO ELEITORAL
O Blog do @eduardoazev também entrou em contato com o presidente da Comissão Eleitoral, Élvio Quirino, para repercutir as informações. Ele orientou a reportagem a encaminhar um email para a Comissão solicitando esclarecimentos, o que foi feito no início da tarde desta segunda-feira, 21. No dia 29 de março, por meio de nota, a Comissão respondeu a solicitação da reportagem, conforme pode ser lida na íntegra:
“Informamos que a lista foi enviada para a Comissão Central Eleitoral pela PROGRAD. Portanto, não cabe ou cabia, a comissão excluir pessoas ou realizar Pesquisas ou Investigações de ocupantes indevidos da listagem.
A conferência técnica foi realizada verificando nomes em duplicidade, vale registrar que nosso prazo foi muito reduzido para promover a Pesquisa Eleitoral. Entretanto, sugiro vossa senhoria que solicite diretamente a PROGRAD seus questionamentos.
Ademais, comunicamos a vossa senhoria que estamos encaminhando para o Sistema de Ouvidoria da UFT a problemática levantada, onde será está registrada no sistema de ouvidoria Federal, e vossa senhoria estará recebendo protocolo do registro em até 20 dias a respostas dos questionamento”.